Casa Mundo News #18
Cultura do Absurdo, o Pós Brain-Rot, Carnaval no Digital e Tendências Asiáticas
Conexões, Contrastes e Choques:
De um Carnaval cada vez mais online — que transforma a avenida em palco virtual — à febre das tendências asiáticas, passando pela “cultura do absurdo” que monetiza polêmicas e a utopia de um “offline” elitista em meio à nossa realidade brasileira, o fato é que todos estamos mergulhados em algoritmos, disputas de narrativas e buscas por relevância.
Falem bem ou falem mal, mas falem de mim.
A Cultura do Absurdo como Modelo de Negócio
O caso recente do Kanye West, que compareceu ao Grammy 2025 ao lado de Bianca Censori num look “impróprio” e causou escândalo, é apenas um exemplo de como produzir choque pode render engajamento — e grana. A criadora de conteúdo @nozy.cam explica que, em muitos casos, essa cultura do absurdo é cultivada para “burlar” o algoritmo, pois o ódio ou a indignação geram interações (curtidas, comentários, reposts), impulsionando perfis e monetizando a audiência, mesmo que sob uma capa negativa.
Já o perfil @thesummerhunter lembra que a crítica e o “rage bait” tendem a se espalhar mais do que elogios, criando uma ilusão de repulsa geral, embora pesquisas mostrem que, no Brasil, 87% das pessoas confiam em influenciadores. Então, nem todo mundo posta absurdos por ideologia; às vezes é pura estratégia de alcance — e nós, reagindo, somos engrenagens desse ciclo. A pergunta é: até onde vai a ânsia pelo “shocking content”?
Viver offline é luxo pra quem?
Quando sumir das redes vira sinal de status — mas não para todo mundo
O termo “offline é o novo luxo” ganhou força no pós-“brain rot”, na medida em que muita gente cansou de rolar feeds infinitos e quer “desconectar” como sinal de disciplina e status. Mas, como destaca a criativista Babi Bono (@babibono), será que todo mundo pode simplesmente “desligar as máquinas”? No Brasil, a internet não é só entretenimento: é meio de trabalho, denúncia de crimes, acesso a políticas públicas. Quem “desliga” corre o risco de ficar isolado e perder oportunidades. Para muitos criadores de conteúdo da favela e periferia por exemplo, a internet é essencial para trabalho, denúncia de abusos, busca de oportunidades e engajamento social. Dados do Data Favela mostram que 52% dos creators de favela obtêm metade ou toda a sua renda vinda das redes, enquanto 30% não recebem nada, mesmo investindo tempo e recursos.
Babi também lembra outros números alarmantes: o país lidera o tempo de tela (9h32 por dia), mas é o último na capacidade de identificar fake news. Ao mesmo tempo, crimes como cyberbullying, exploração sexual infantil e intolerância religiosa se multiplicam em ambiente digital. Ou seja, essa “desconexão total” pode ser um privilégio de poucos, enquanto a maioria precisa de redes seguras, inclusivas e — principalmente — regulamentadas para não serem “terra sem lei”.
O Carnaval na Era da Internet
Como a Folia Desfila no Mundo Digital
Não há como negar: o Carnaval, uma das maiores celebrações populares do Brasil, vem cada vez mais abraçando a presença digital. Seja no post de São Paulo reivindicando o “maior Carnaval de rua” — e provocando reações de Recife, Salvador e Rio — seja na Liesa investindo em marketing para atrair a Geração Z, ou no fenômeno dos sambas-enredo que viralizam nas playlists de streaming, a folia está mais online do que nunca.
Uma pesquisa recente mostra que 8 em cada 10 brasileiros foram ao São João em vez do Carnaval. Mas, mesmo com esse aparente desinteresse, o Carnaval expande suas alas jovens, viraliza passinhos no TikTok e até ganha “tradução” de termos africanos via redes sociais, como no projeto do cineasta Estêvão Ciavatta e do professor Luiz Antonio Simas, que esmiúçam letras de escolas cariocas. Ou seja, a festa não se contenta em ficar apenas nas ruas ou na avenida; agora ela também desfila nos feeds e stories.
A ditadura (de tendências) da ÁSIA
Coreia, Japão e China dominando o mundo da moda, música, beleza, design e tecnologia
De K-pop a k-dramas, de harajuku fashion a “Japandi”, de aplicativos chineses dominando redes sociais a colaborações tecnológicas de gigantes orientais, o panorama cultural e econômico do Leste Asiático se impôs de tal maneira que, hoje, consumir a cultura asiática virou um comportamento global. A Coreia do Sul, por exemplo, investiu em “soft power” e conquistou o mundo com música, cosméticos, séries e um PIB fortalecido pela cultura pop. Já o Japão surge como destino hype, mesclando minimalismo tradicional e alta tecnologia, influenciando moda e design — vide o sucesso do “Japandi”. Enquanto isso, a China, depois de exportar o TikTok, vê mais uma leva de apps como o DeepSeek e o Xiaohongshu (conhecido como RED), ganharem destaque no mundo ocidental.
Tudo isso não é mero acaso: anos de planejamento governamental e investimento em cultura tornaram esse “triângulo asiático” numa potência de tendências. Entre a contracultura de Harajuku, os fandoms de K-pop e o “ganho de território” de aplicativos chineses, nota-se um crescente interesse pela forma como esses países mesclam tradição e modernidade, mantendo cada vez mais influência sobre a música, gastronomia, design, cinema, cosméticos e até a maneira como as pessoas planejam suas viagens. Se antes a Ásia soava “distante”, agora ela domina as conversas, os algoritmos e os guarda-roupas mundo afora.
A Casa Mundo é uma casa de pesquisa e inteligência de mercado com mais de 25 anos de experiência ajudando marcas a tomar decisões embasadas através da pesquisa qualitativa.
Conheça mais do nosso trabalho: https://casamundopesquisa.com.br/
Contato: casamundo@casamundopesquisa.com.br