Casa Mundo News #20
O Novo Feminismo, Saúde social em pauta, o Cinema Nacional Pós Oscar e a Geração "Nem-Nem"
Narrativas em Disputa: O Que Está Mudando de Verdade?
O que define a narrativa de uma época? Se olharmos para a moda, o cinema, a tecnologia e até para o mercado de trabalho, encontramos um ponto em comum: tudo está em disputa. Do empoderamento que se confunde com hipersexualização na Paris Fashion Week à ascensão da inteligência artificial como companhia emocional, passando pelo cinema brasileiro que brilha no Oscar, mas ainda enfrenta barreiras, até a Geração Nem-Nem, jovens desiludidos com um futuro que parece cada vez mais distópico.
Nesta edição, olhamos para essas contradições e questionamos os discursos que circulam ao nosso redor. Quem molda essas narrativas? O que está mudando de fato e o que ainda é ilusão? Em um mundo que vende conexão, visibilidade e progresso, nem tudo é tão simples quanto parece – e o futuro, cada vez mais, depende de quem consegue enxergar além do que nos é apresentado.
Como Fica o Cinema Nacional Depois do Oscar?
Os desafios do Brasil para transformar reconhecimento em continuidade no cinema.
No último fim de semana, o cinema brasileiro fez história no Oscar 2025, com "Ainda Estou Aqui" vencendo na categoria de Melhor Filme Internacional. Suas indicações em categorias principais, como Melhor Filme e Melhor Atriz para Fernanda Torres, marcaram um avanço na visibilidade global do cinema nacional, mas a ausência de vitórias nesses prêmios reforça as barreiras que ainda limitam produções fora do eixo hollywoodiano.
A premiação na categoria internacional reafirma a força narrativa e a autenticidade do cinema brasileiro, mas também evidencia um padrão: a Academia raramente permite que filmes estrangeiros avancem para os prêmios principais. A vitória de "Anora", de Sean Baker, como Melhor Filme, confirma o interesse por narrativas sociais intensas, mas sobretudo quando contadas sob a ótica do cinema independente dos EUA.
Para o cinema nacional, o desafio agora é manter o nível de produção em um cenário interno instável. Entre cortes de financiamento, mudanças nas políticas culturais e dificuldades de distribuição, a continuidade de um cinema forte depende de estratégias que garantam investimento, valorizem talentos locais e ampliem o alcance das produções dentro e fora do país. O Brasil tem mostrado sua potência, mas precisa assegurar que essa conquista não seja um feito isolado, e sim um novo capítulo para a indústria nacional.
IA, Solidão e o Futuro das Relações:
Os alertas do SXSW 2025 sobre a era da hiperconectividade e o vazio social
A relação entre tecnologia e afeto está passando por uma revolução. No SXSW 2025, o impacto da inteligência artificial, realidade virtual e novas interfaces emocionais dominou as discussões, evidenciando um mundo onde a conexão digital avança, mas a solidão se intensifica.
No Brasil, 1 em cada 10 pessoas já usa IA como suporte emocional, enquanto globalmente, aplicativos que simulam companhia cresceram 652% em um ano. No entanto, a psicoterapeuta Esther Perel alertou para os riscos da "intimidade artificial", que pode reduzir nossas expectativas sobre relações reais. Amy Webb e Kasley Killam reforçaram essa preocupação com dados alarmantes: 24% das pessoas se sentem sozinhas e 20% não têm ninguém para pedir ajuda.
Apesar de vivermos hiperconectados, 73% da Geração Z se sente desconectada, e 83% dos profissionais afirmam que a solidão impacta o ambiente de trabalho. Empresas que investem em cultura e conexão apresentam maior inovação e menor turnover, mas o bem-estar social ainda é tratado como secundário.
O crescimento da tecnologia emocional reflete uma sociedade que busca soluções rápidas e mediadas por algoritmos. No entanto, como alertou Killam no SXSW: "Saúde social será para a próxima década o que saúde mental é hoje." A inovação pode oferecer suporte, mas a profundidade do vínculo humano continua insubstituível.
O Novo Feminismo na Moda:
Entre a Hipersexualização e o Empoderamento
A Paris Fashion Week 2025 expôs uma nova tensão na moda: o embate entre a hipersexualização e o empoderamento feminino. De Miu Miu a Mugler, as coleções exploraram o corpo como manifesto, revelando como a sensualidade pode ser tanto uma ferramenta de autonomia quanto um reflexo da cultura da exposição. Enquanto Casey Cadwallader na Mugler desenha silhuetas precisas, com recortes e transparências que evocam poder, Miuccia Prada na Miu Miu brinca com a fragilidade aparente, destacando sutiãs visíveis, tecidos fluidos e uma feminilidade que não se prende a padrões rígidos.
Esse jogo entre força e vulnerabilidade reflete um debate maior sobre o corpo feminino como território de disputa cultural. A moda, como sempre, antecipa mudanças comportamentais, e o que vemos agora é um feminismo que não se encaixa em categorias fixas. A geração que cresce hoje não enxerga a sensualidade como um dilema entre submissão e libertação, mas como um espaço de ressignificação constante.
A Geração “Eu Não Sonho Mais”
Jovens cada vez mais desiludidos com carreiras tradicionais e um sistema de trabalho exaustivo
A geração que cresceu ouvindo que o trabalho árduo era o caminho para o sucesso agora questiona essa lógica. Globalmente, 12,9% dos jovens estão desempregados, enquanto no Brasil, 23,7% da população entre 15 e 29 anos se encaixa na categoria “nem-nem” (nem estudam, nem trabalham). Mas a crise vai além do ambiente profissional: 52% dos jovens das gerações Y e Z querem comprar um imóvel, mas enfrentam barreiras como crédito restrito e preços incompatíveis com seus rendimentos. Com a inflação corroendo o poder de compra e os custos básicos subindo sem reajuste proporcional nos salários, muitos já não enxergam um futuro financeiramente viável.
No Brasil, quase 8,5 milhões de trabalhadores pediram demissão voluntariamente em 2024, um recorde histórico que reflete a insatisfação com a cultura da alta performance. Para muitos, a ideia de uma carreira fixa deu lugar à busca por sobrevivência e tentativa de adaptação a uma realidade econômica cada vez mais instável. Salários defasados, crise imobiliária, aumento do custo de vida e a precarização do trabalho criam um cenário onde não se trata apenas de desistir de sonhar, mas de não enxergar meios concretos para construir um futuro minimamente estável.
A Casa Mundo é uma casa de pesquisa e inteligência de mercado com mais de 25 anos de experiência ajudando marcas a tomar decisões embasadas através da pesquisa qualitativa.
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ótima matéria!!