Como fica o consumo no meio disso tudo?
Vivemos tempos em que o consumo se transforma em uma busca incessante por pertencimento, prazer e identidade. No meio de crises econômicas, rupturas culturais e a aceleração dos algoritmos, o que parecia ser um reflexo de desejos se revela uma tentativa de preencher vazios cada vez mais profundos.
O mercado, que já se moldava para atender a esses anseios, agora se torna um espaço onde o que consumimos define, mais do que nunca, quem pensamos ser. Entre incertezas globais e novas formas de influência, o consumo não é mais uma resposta simples a nossas necessidades — é um reflexo do caos que nos cerca.
Adolescência: quando o algoritmo educa, e a humanidade assiste
O algoritmo esta criando nossos filhos?
Adolescência, minissérie britânica da Netflix, se tornou um fenômeno global ao atingir o topo de audiência em 71 países. A série de quatro episódios investiga o que transforma um garoto comum em alguém capaz de cometer um crime brutal. A resposta está na ausência de pertencimento, na falência de modelos positivos de masculinidade e na força de um novo educador silencioso — o algoritmo.
A série mergulha no universo dos incels e em fóruns que vendem ressentimento como identidade. A teoria 80/20 — que diz que 80% das mulheres escolhem os 20% mais "desejáveis" dos homens — é apresentada como uma verdade absoluta, que alimenta frustrações e miséria emocional.
O vocabulário da “manosfera” aparece com força: redpill, sigma, Chad, MGTOW. Tudo isso forma uma subcultura onde adolescentes encontram causa, comunidade e sentido — ainda que distorcidos.
Culturalmente, Adolescência ilumina uma mudança crítica: já não basta falar sobre bullying, autoestima ou saúde mental em campanhas genéricas. A disputa hoje é simbólica, emocional e digital. Vivemos uma erosão de referências positivas e uma explosão de narrativas fragmentadas que moldam identidades com base em frustração e ódio.
A Realidade das Mães Solo no Brasil
O Que Não Estão Dizendo Sobre as “Mães Solteiras”
A figura da "mãe solteira" tem ganhado destaque nas redes sociais brasileiras, com músicas e vídeos viralizando no TikTok e Instagram. A maioria desses conteúdos reduz essas mulheres a um fetiche ou um estereótipo, ignorando suas lutas diárias e os desafios estruturais que enfrentam.
Um exemplo disso é a música "Mãe Solteira", de J. Eskine, MC Davi e MC Ryan SP, que chegou ao topo do Spotify Brasil. Longe de trazer um olhar sensível sobre essas mulheres, a canção as coloca como objeto de desejo e fetiche, reforçando narrativas que reduzem sua autonomia a um atrativo sob a ótica masculina.
Por trás da tendência, há uma realidade desafiadora. Dados da FGV IBRE mostram que o número de mães solo no Brasil cresceu 17,8% entre 2012 e 2022, totalizando 11,3 milhões. Segundo o Datafolha, 55% das mães brasileiras são solteiras, viúvas ou divorciadas, e 18% estão desempregadas, contra 8% das mães casadas. Além disso, 44% vivem com até R$ 1.212 por mês.
Embora a viralização do tema amplifique o debate, ela também exibe uma contradição: a idealização da maternidade solo contrasta com a falta de suporte real. Mais do que um conceito midiático, a experiência das mães solo segue sendo uma questão social urgente, que precisa ser vista além das redes.
A Consolidação da Cultura Wellness
Wellness além da tendência: A transformação do consumo no mercado wellness
O mercado de wellness deixou de ser um nicho aspiracional para se tornar uma cultura de consumo consolidada, A mudança é profunda: não se trata apenas de buscar o “saudável”, mas de integrar prazer, longevidade e identidade nas escolhas do dia a dia. Na alimentação, bebidas funcionais ganham espaço com velocidade. No Brasil, cervejas sem álcool cresceram 24% em 2023. A Geração Z lidera a virada: 88% querem reduzir ou abandonar o álcool, preferindo energéticos limpos, fermentados, probióticos e fibras.
No vestuário, o athleisure dispara. Avaliado em US$ 358 bilhões, deve chegar a US$ 662 bi até 2030. Lululemon, Alo Yoga, On e Hoka disputam espaço com gigantes como Nike e Adidas, refletindo uma nova fusão entre moda, conforto e funcionalidade. A proposta vai além do look esportivo — trata-se de um vestuário que acompanha a rotina híbrida, entre treino, trabalho e lazer. Esse movimento se vê também na popularização da Coca Zero, que cresceu 28,9% no Brasil em 2024 e está prestes a superar o consumo de coca normal no Brasil.
Incertezas nos EUA e o Medo de uma Recessão
Um olhar para o mercado de varejo americano
Nas últimas semanas, a Casa Mundo esteve nos Estados Unidos para realizar um estudo exploratório sobre o mercado de moda e o posicionamento da FARM RIO. Nossa Head de Pesquisa Adriana Hack passou por Nova York e Los Angeles realizando entrevistas, além de conduzir um estudo etnográfico em campo. Essa escuta foi atravessada por um contexto econômico em ebulição. Nesta semana, o índice de confiança do consumidor americano caiu ao menor nível desde janeiro de 2021, sinalizando um pessimismo crescente.
O consumo representa 69% da economia dos EUA, mas esse modelo está sob pressão. A guerra comercial iniciada por Trump segue deixando rastros — elevando preços e alimentando incertezas sobre o futuro dos mercados.
“O que vimos foi um varejo eficiente, veloz, sedutor — mas também exausto”, observa Adriana. O e-commerce opera como entretenimento, as promoções são constantes, o desejo é fabricado o tempo todo. Em um país onde a desigualdade cresce e o senso de pertencimento enfraquece, consumir virou mais do que um hábito: virou uma tentativa de preencher vazios.
A Casa Mundo é uma casa de pesquisa e inteligência de mercado com mais de 25 anos de experiência ajudando marcas a tomar decisões embasadas através da pesquisa qualitativa.
Conheça mais do nosso trabalho: https://casamundopesquisa.com.br/
Contato: casamundo@casamundopesquisa.com.br